O Brasil segue resistindo a aderir formalmente à Nova Rota da Seda, um megaprojeto chinês que já reúne mais de 140 países e prevê investimentos trilionários em infraestrutura.
Apesar de ser um dos maiores parceiros comerciais da China, o país tem optado por manter distância oficial da iniciativa, o que reacende o debate: essa decisão reflete uma estratégia prudente ou uma oportunidade desperdiçada?
Criada em 2013 pelo presidente chinês Xi Jinping, a Nova Rota da Seda — ou Iniciativa Cinturão e Rota (BRI, na sigla em inglês) — visa conectar a China a diferentes partes do mundo por meio de rodovias, ferrovias, portos e oleodutos.
Com um volume de investimentos estimado em mais de US$ 1 trilhão, o projeto já chegou a boa parte da América Latina, incluindo países vizinhos como Argentina e Peru.
Mas o Brasil, que enfrenta desafios estruturais em logística e infraestrutura, tem optado por cautela. Diplomatas brasileiros argumentam que aderir à Nova Rota da Seda poderia ser malvisto por parceiros ocidentais, especialmente pelos Estados Unidos, que têm a China como sua principal rival geopolítica.
Investimentos sem compromisso formal
Mesmo fora da iniciativa, o Brasil já recebe aportes significativos do gigante asiático. Desde 2007, a China investiu cerca de US$ 72 bilhões no país, segundo o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Esses recursos têm impulsionado setores como energia, petróleo e até a produção de carros elétricos. Em 2023, os investimentos chineses no Brasil cresceram 33%, totalizando US$ 1,73 bilhão até o momento.
Especialistas, no entanto, acreditam que a adesão à Nova Rota da Seda poderia abrir ainda mais portas para o Brasil, ampliando o acesso a financiamentos em infraestrutura e conectando a economia nacional a novos mercados.
Riscos e benefícios em jogo
Há também preocupações sobre os impactos de uma adesão. Críticos apontam que projetos da Nova Rota da Seda têm levado alguns países a dívidas insustentáveis. Em 2018, por exemplo, o Sri Lanka precisou ceder o controle de um porto estratégico à China após não conseguir pagar suas obrigações financeiras.
O equilíbrio diplomático
A postura do Brasil reflete sua política de equilíbrio entre grandes potências. Desde a ditadura militar, o país evita alinhar-se automaticamente a qualquer superpotência, preferindo manter diálogos com diferentes blocos econômicos. No caso da Nova Rota da Seda, essa estratégia busca preservar boas relações com os Estados Unidos sem descartar futuras parcerias mais profundas com a China.
Enquanto isso, a China parece disposta a seguir investindo no Brasil, mesmo sem um compromisso formal. Em artigo recente publicado em um jornal brasileiro, Xi Jinping destacou a importância de “sinergias entre a Iniciativa Cinturão e Rota e as estratégias de desenvolvimento do Brasil”.
Com isso, o Brasil segue em um delicado jogo de xadrez geopolítico, tentando colher benefícios econômicos sem comprometer sua autonomia diplomática. O tempo dirá se a decisão de ficar de fora da Nova Rota da Seda será lembrada como uma estratégia visionária ou uma oportunidade desperdiçada.
Fonte: O Globo, G1